PLAYLIST: 10 filmes da década e porquê

Todos os filmes estão aqui por uma razão. Alguns pela sua beleza estranha, por uma disposição rara, pelo seu relato singular ou pela sua história inesquecível que nos acompanha na rotina intrínseca da nossa vida. Estes são os nossos 10 filmes da década.

Canino (2010) – Grécia

A melhor metáfora inconsciente de um país arruinado, de uma família disfuncional. Um filme que afetará a tua mente e te fará questionar qualquer significado da palavra “normal”. A deriva democrática, uma versão histérica da alegoria da caverna, um retrato familiar hiperbólico observado através do prisma da ficção-científica. Quando o vires, viverás neste chalé de um qualquer lugar da Grécia, onde a piscina é o mar, os zombies flores amarelas e o teu avô o Frank Sinatra. Provocativo, rebelde, insólito. O filme de Yorgos Lanthimos é de 2009 mas estreou em Portugal em julho de 2010, e gostamos tanto dele que passou por cima de qualquer purismo sobre a sua “data de validade”. Acho que não sabemos fazer listas. Ups.

Uma Separação (2011) – Irão | França

Um homem exemplar tem a sua vida virada do avesso quando recebe os papéis de divórcio, enviados pela sua esposa. Uma história de pessoas levadas ao limite numa sociedade onde reina uma violência intrínseca. Imagens frenéticas, mas realistas, com uma apresentação milimétrica que enterra as personagens, asfixiadas pelos enquadramentos. Asghar Farhadi agitou o Festival de Berlim em 2011 com esta maravilha que nos mergulha no inferno particular deste casamento. Sustentado, sufocante, binário.

The Hunt - A Caça (2012) - Dinamarca

Thomas Vinterberg mergulha diretamente na teoria do “olho por olho, dente por dente” através de um professor acusado de pedofilia. O relato não brinca com a dúvida do espectador, o protagonista é inocente. Mas a temática é tão delicada que não há tempo para se prender na culpabilidade. Vinterberg leva-nos numa narrativa energética e num pesadelo pessoal, guiado por um cinema impulsivo de como uma mentira pode empurrar-te para o abismo. Pesado, frio, injusto e armadilhado.

À Procura de Sugar Man (2013) – Suécia | Reino Unido | Finlândia

Primeira longa-metragem do sueco Malik Bendjelloul, À Procura de Sugar Man, levou o Óscar de melhor documentário em 2013 e merece ser aplaudido como um dos grandes filmes da década pela sua história, pelos seus passos distantes na neve, pelos seus ecos. Uma viagem tortuosa pelo coração de uma pessoa mutilada pela irrelevância, um thriller cultural emocionante que nos deixa os pensamentos de um artista em paz consigo mesmo. Melancólico, rítmico, sugestivo.

Força Maior (2014) - Suécia | França | Noruega | Dinamarca

Um cataclisma no cinema europeu, um estudo minucioso de Ruben Östlund, uma experiência cinéfila. Um relato perverso em torno da intimidade de um casal virtualmente perfeito num criativo campo de minas. Um casamento exposto a condições únicas, privilegiadas. A sensação vertiginosa da solidão, um filme sobre os medos, desde o espírito da cobardia, acompanhado por uma banda sonora tão soberba que assusta. Frio, detalhista, perverso..

A Juventude (2015) – Itália | França | Reino Unido | Suiça

A delicadeza e a sensibilidade que nos fez apaixonar por ‘A Grande Beleza’ transpira nesta indispensável obra de Sorrentino. Um universo heterodoxo, fauniano, surrealista e pitoresco com uma reflexão trágica sobre a existência (e o fim dela). Uma peça de ouro onde os fantasmas do passado e a rotina comum se encontram na mesma mesa. O significado da vida, nada mais barroco e nada mais superficial que isso. Delicioso, inquietante, belo.

Toni Erdmann (2016) - Alemanha | Áustria | Mónaco | Roménia | França | Suiça

A excêntrica luta de um pai para recuperar o afeto e atenção da sua filha. Uma história macabra, infectada de amor, que revela que o humor é a melhor terapia de choque para quem caminha pela vida sem rumo. Uma reflexão sobre a comédia como ferramenta social numa Europa em plena crise moral. Delirante, disfuncional e terno.

Chama-me pelo teu Nome (2017) - Itália | França

Um relato deslumbrante que nasce da revelação do ardor sensual. Uma declaração de amor ao primeiro desgosto que se mantém forte e acima dos primeiros medos, aqueles que nunca nos abandonam. Uma história onde a verdade e a beleza não têm de estar salvaguardadas, mas onde são entregues. Sensual, estimulante e revelador.

Cold War: Guerra Fria (2018) - Polónia | Reino Unido | França

A beleza que transpira dos amores difíceis, dotados da capacidade de nos presentear com imagens inesquecíveis. Os amores complexos deixam-nos essa sensação mágica e rara, assim como os filmes magistrais de Pawel Pawlikowski. Um lugar íntimo e solitário de flores e deleite com algo trágico e belo. Pulsante, profundo e etéreo.

Retrato de uma rapariga em chamas (2019) - França

Duas mulheres queimam perante uma paixão desconhecida e clandestina, uma conexão exagerada até à eclosão de um suspiro poético, literário. Um estilo sensorial que desenvolve um relato em crescendo conforme aumenta o conhecimento, a cumplicidade e o êxtase das duas protagonistas. Poético, requintado e sensorial.